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Bradbury, R.. Fahrenheit 451


vb. criado em 16/09/2014, 10h06m.
gênero ficção científica, área 'distopias', ênfase política

estilo: dramático (antagonismos inconciliáveis); não é surrealista, nem expressionista, nem impressionista, nem formalista; tem um que romãntico (visão de mundo centrada no indivíduo, ideal utópico, escapismo (retorno ao estado de natureza, inclinação para o passado)); evoca romantismo de 2ª geração: pessimismo, gosto pela morte, naturalismo, a mulher é alcançada mas a felicidade não. Tem um toque realista na medida em que enfoca a classe média, o herói não é idealizado, assim como suas relações amorosas, e contém uma crítica (aos pequenos burgueses que não querem pensar).

crivos

novela; narrativa linear (um só flashback, pequeno), monofônica; narrador observador;

estrutura narrativa tradicional (cena = persoangem, ação, sequência; uso moderado do fluxo de consciência; descrições eventuais (paisagens dramatizadas, ligadas à ação, geralmente casando com o estado de espírito dos personagens); mostra mais do que conta; ação predomina sobre contemplação; o real e o imaginário são usados como fontes de maneira equilibrada; há boas cenas de ação/tensão dramática, mas não é um livro "apressado").

personagens esféricos, complexos; posições bem marcadas, sem simplificação do personagem ou do conflito;

lógica interna consistente;

conflitos (interior e exterior) facilmente identificáveis, relevantes. Há um enredo psicológico para o conflito interno, ao lado de um enredo tradicional para o conflito externo.

os guias: a moça maluca, a mulher queimada, o velho Faber (fazedor, fabricante, criador), o outro velho Granger (granjeiro, fazendeiro)

a desmedida vem no dia 21

uma mulher do bem que causa a metanoia, e outra do mal que denuncia

porque matar o black antes de fugir?

a avenida que parece um rio

trocar de cheiro, por um cheiro do velho Faber, depois de lince

sair da cidade para o campo; foge de noite, chega ao destino no amanhecer

o rio verdadeiro, deixar-se levar; o homem do fogo que se entrega à água

do lado urbano do rio o sabujo, do lado selvagem o veado

porque seguir trilhos?

um outro tipo de fogo, que aquece em vez de destruir

porque não há mulheres no novo mundo? 5 velhos uniformizados azul-escuro

meio dia, eclesiastes

personagens:

Clarice, claridade, clareza, um misto de Beatriz (por isso não pode ter um final romântico com ele, Beatrizes são anjos, são espirituais apenas) com sereia cuja voz o leva à desmedida (num dia de chuva, debaixo do batismo da chuva).

Mildred não pode ser cômica, porque é a pessoa-média do mundo distópico que o autor quer representar, tem que ser trágica e triste, mas é uma representante perfeita do mundo alienado que não sabe ser infeliz.

Beatty é complexo; ou ele é um membro da elite hipócrita que tem acesso ao que proíbe aos da ralé; ou é um fanático religioso que lê os livros como sacrifício para fortalecer sua fé, como um penitente se açoita escondido em sua cela.

Montag (segunda feira, dia da lua e dos deuses lunares, e conceitos relativos (imaginação, imatéria, literatura)) é um herói moderno porque indeciso; enfrenta um conflito interno (com suas dúvidas) e externo (com o mundo que não (o) aceita); é uma criatura do fogo, que cavalga a salamandra, mas é também uma fênix que vai dar-se à luz, depois de um incêndio; e que transita do mundo urbano do fogo paramento mundo idílico-selvagem da água, pelo caminho da água, deixando-se levar pela água.

frases anotadas

O ar parecia carregado de uma calma especial, como se alguém o esperasse, quieto

uma espécie de fome delicada que em tudo se detinha com infatigável curiosidade.

salamandra em seu braço e o disco da fênix em seu peito,

um levíssimo aroma de damascos e morangos frescos. Montag olhou em volta e percebeu que isso era totalmente impossível àquela altura do ano.

tenho dezessete anos e sou doida. Meu tio diz que essas duas coisas andam sempre juntas.

Clarisse McClellan

— Você pensa demais — disse Montag, incomodado.

Feliz! Mas que absurdo!

Não se lembrava de nada parecido, a não ser numa tarde, um ano antes, quando conhecera um velho no parque e haviam conversado...

abriu a porta do quarto. Foi como entrar na fria câmara marmórea de um mausoléu

Resolvemos uns nove ou dez casos desses por noite.

sua maleta de melancolia líquida

Mildred — disse ele finalmente.

algo novo.

sangue de mais alguém estava ali.

Se tivéssemos uma quarta tela, puxa, seria como se este salão não fosse mais só nosso, mas os salões de todos os tipos de pessoas exóticas.

Ele sentiu o corpo dividir-se em duas metades,

não vejo o que há de social em juntar um grupo de pessoas e depois não deixá-las falar,

quebrar vidros no estande do Quebra-Vidraças ou destruir carros com a grande bola de aço no estande do Demolidor.

Não tenho amigos. Isso é o bastante para provar que sou anormal. Mas todos que conheço estão gritando ou dançando por aí como loucos ou batendo uns nos outros.

Todo homem é demente quando pensa que pode enganar o governo

“Havemos hoje de acender uma vela tão grande na Inglaterra, com a graça de Deus, que tenho fé que jamais se apagará”

Um homem chamado Latimer disse isso para um homem chamado Nicholas Ridley, enquanto eram queimados vivos em Oxford, por heresia, no dia 16 de outubro de 1555.

seus olhos começaram a ficar famintos, como se tivessem de olhar para algo, qualquer coisa, tudo.

ele começara a chorar, não pela morte, mas pela ideia de pensar em não chorar diante da morte,

Deve haver alguma coisa nos livros, coisas que não podemos imaginar, para levar uma mulher a ficar numa casa em chamas;

Não precisamos que nos deixem em paz. Precisamos realmente ser incomodados de vez em quando. Quanto tempo faz que você não é realmente incomodada? Por alguma coisa importante, por alguma coisa real?

Depois, veio o cinema, no início do século vinte. O rádio. A televisão. As coisas começaram a possuir massa.

A escolaridade é abreviada, a disciplina relaxada, as filosofias, as histórias e as línguas são abolidas, gramática e ortografia pouco a pouco negligenciadas, e, por fim, quase totalmente ignoradas. A vida é imediata, o emprego é que conta, o prazer está por toda parte depois do trabalho. Por que aprender alguma coisa além de apertar botões, acionar interruptores, ajustar parafusos e porcas?

Rodovias cheias de multidões que vão pra cá, pra lá, a toda parte, a parte alguma. Os refugiados da gasolina.

Você pergunta o porquê de muitas coisas e, se insistir, acaba se tornando realmente muito infeliz.

Se não quiser um homem politicamente infeliz, não lhe dê os dois lados de uma questão para resolver; dê-lhe apenas um. Melhor ainda, não lhe dê nenhum.

Encha as pessoas com dados incombustíveis, entupa-as tanto com “fatos” que elas se sintam empanzinadas, mas absolutamente “brilhantes” quanto a informações. Assim, elas imaginarão que estão pensando, terão uma sensação de movimento sem sair do lugar. E ficarão felizes, porque fatos dessa ordem não mudam. Não as coloque em terreno movediço, como filosofia ou sociologia, com que comparar suas experiências. Aí reside a melancolia.

Todo homem capaz de desmontar um telão de tevê e montá-lo novamente, e a maioria consegue, hoje em dia está mais feliz do que qualquer homem que tenta usar a régua de cálculo, medir e comparar o universo, que simplesmente não será medido ou comparado sem que o homem se sinta bestial e solitário.

livros não dizem nada! Nada que se possa ensinar ou em que se possa acreditar. Quando é ficção, é sobre pessoas inexistentes, invenções da imaginação. Caso contrário, é pior: um professor chamando outro de idiota, um filósofo gritando mais alto que seu adversário. Todos eles correndo, apagando as estrelas e extinguindo o sol. Você fica perdido.

Ele não estava só olhando para ela, mas procurando por si mesmo no rosto dela e pelo que tinha de fazer.

“Calcula-se que onze mil pessoas, em diversas épocas, tenham preferido enfrentar a morte a se sujeitar a quebrar seus ovos na extremidade mais estreita”.

Não atenderemos.

“Este assunto favorito: eu mesmo.”

Livros não são pessoas. Você lê e eu olho em volta, mas não há ninguém! Ele olhou para o salão, morto e cinzento como as águas de um oceano que transbordaria de vida se eles acendessem o sol eletrônico. — Agora — disse Mildred —, minha “família” é de pessoas. Elas me contam coisas: eu rio, eles riem! E as cores, então?!

Seu nome era Faber

“Eu não falo de coisas, senhor”, disse Faber. “Falo do sentido das coisas. Sento-me aqui e sei que estou vivo.”

talvez, se eu falar por tempo suficiente, minhas palavras façam sentido.

Não é de livros que você precisa, é de algumas coisas que antigamente estavam nos livros. As mesmas coisas poderiam estar nas “famílias das paredes”. Os mesmos detalhes meticulosos, a mesma consciência poderiam ser transmitidos pelos rádios e televisores, mas não são. Não, não. Absolutamente não são os livros o que você está procurando! Descubra essa coisa onde puder, nos velhos discos fonográficos, nos velhos filmes e nos velhos amigos; procure na natureza e procure em você mesmo. Os livros eram só um tipo de receptáculo onde armazenávamos muitas coisas que receávamos esquecer. Não há neles nada de mágico. A magia está apenas no que os livros dizem, no modo como confeccionavam um traje para nós a partir de retalhos do universo.

que significa a palavra qualidade? Para mim significa textura. Este livro tem poros. Tem feições. Este livro poderia passar pelo microscópio. Você encontraria vida sob a lâmina, emanando em profusão infinita. Quanto mais poros, quanto mais detalhes de vida fielmente gravados por centímetro quadrado você conseguir captar numa folha de papel, mais “literário” você será.

Os bons escritores quase sempre tocam a vida.

Entende agora por que os livros são odiados e temidos? Eles mostram os poros no rosto da vida.

São muito poucos os que ainda querem ser rebeldes. E desses poucos, a maioria, como eu, facilmente se intimida.

Por que desperdiçar suas últimas horas correndo dentro da gaiola e negando que é um esquilo?

Os que não constroem precisam queimar. Isso é tão antigo quanto a história e os delinquentes juvenis.

Basta comparar Winston Noble com Hubert Hoag por uns dez segundos para adivinhar o resultado.

Ele seria Montag-mais-Faber, fogo mais água e, um dia, depois de tudo misturado e acalmado e trabalhado em silêncio, não haveria nem fogo nem água, mas vinho. A partir de duas coisas distintas e opostas, uma terceira.

aqui vem um animal estranhíssimo, que em todas as línguas é conhecido como idiota.

“Palavras são como folhas, e onde mais abundam, é raro encontrar embaixo muitos frutos da razão”. Alexander Pope.

“Conhecer pela metade é uma coisa perigosa. Beba até perder o fôlego, ou não mate a sede na fonte das musas; ali as correntes rasas intoxicam o cérebro, mas, em grande parte, beber nos deixa sóbrios novamente”? Pope.

insensatez que consiste em tomar uma metáfora por prova, uma verborragia por uma fonte de verdades capitais, e a si mesmo por oráculo, é inata em nós”, disse certa vez o senhor Valéry.

Mas ele estava no rio. Tocou a água, só

Aquele pequeno movimento de cor branca e vermelha, um fogo estranho porque significava uma coisa diferente para ele. Não estava queimando. Estava aquecendo.

Todos cometemos o tipo certo de erro; caso contrário, não estaríamos aqui.

Achei que tinha parte do Eclesiastes e talvez um pouco do Apocalipse,

Milhares nas estradas, nos trilhos abandonados, hoje à noite, vagabundos por fora, bibliotecas por dentro.

Todos devem deixar algo para trás quando morrem, dizia meu avô. Um filho, um livro, um quadro, uma casa ou parede construída, um par de sapatos. Ou um jardim. Algo que sua mão tenha tocado de algum modo, para que sua alma tenha para onde ir quando você morrer.

Quando nos esquecermos quanto a natureza está próxima na noite, dizia meu avô, algum dia ela vai entrar e nos pegar, pois teremos esquecido quão terrível e real ela pode ser.

“Odeio um romano chamado Status Quo!”, disse-me ele. “Encha seus olhos de admiração”, dizia ele, “viva como se fosse cair morto daqui a dez segundos.

Durante a próxima semana iremos encontrar muitas pessoas solitárias, tal como no próximo mês e no próximo ano. E quando nos perguntarem o que estamos fazendo, poderemos dizer: estamos nos lembrando. É aí que, no longo prazo, acabaremos vencendo.

E do outro lado do rio, está a árvore da vida que produz doze frutos, dando o seu fruto de mês em mês; e suas folhas servem para curar as nações.

será o que guardarei para o meio-dia. Para o meio-dia…
ENCYCLOPAEDIA V. 51-0 (11/04/2016, 10h24m.), com 2567 verbetes e 2173 imagens.
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